Estar com a saúde em dia, se sentindo disposto e animado, é, provavelmente, o sonho da maioria das pessoas. Tem sensação melhor do que pegar o resultado dos exames que você faz todo ano e ver que as taxas do hemograma estão boas, o colesterol e a glicemia uma beleza? A gente não sabe quem fica mais feliz: nós ou o médico! Brincadeiras à parte, a verdade é que todo mundo gosta de se sentir bem. Porém, tem pessoas que acreditam que se elas estão se sentindo bem, sem nenhuma dor ou incômodo, significa que não precisam ir ao médico. E é aí que mora o perigo: as doenças silenciosas.

Muitas doenças não batem na nossa porta e avisam que estão chegando; elas chegam, entram e ficam ali. E elas ficam quietinhas, se estabelecendo na ‘casa nova’ por meses, anos ou décadas, sem incomodar ninguém. Diferente do que muita gente pensa, se sentir bem não basta, é preciso comprovar, por isso os exames de imagem, laboratoriais ou até os mais modernos, que envolvem radiação e aparelhos modernos, estão aí. Dessa forma, se sentir bem e disposto é importante, mas não custa nada fazer os exames daquele lista que seu médico te entrega todo ano, na maior boa vontade, e você, com as mais diversas desculpas, se recusa a fazer. 

Mas, agora, você deve estar se perguntando o objetivo de toda essa introdução, então vamos ser diretos: dia 28 de julho, quinta-feira, é marcado como dia de conscientização e luta contra as hepatites virais – sim, no plural, já que são cinco tipos. As hepatites são consideradas doenças silenciosas, que você pode demorar anos para saber que está infectado pelo vírus porque ele não chega ‘chegando’, mas chega de mansinho e vai conquistando o seu espaço. 

Indo direto ao assunto, a campanha de conscientização sobre as hepatites virais faz parte das ações do ‘julho amarelo’, que foi instituído pela Lei 13.802/2019. A hepatite é um problema de saúde pública em todo o mundo e, como já diz o nome, é uma inflamação que tem como alvo o fígado. As hepatites virais são causadas por vírus, que podem agir de diferentes formas, dependendo da sua classificação. Apesar de ser menos comum, também há casos de hepatites medicamentosas, alcoólicas ou ligadas à condições autoimunes. 

Hoje, existem cinco tipos de hepatites, sendo elas: A, B, C, D e E. De acordo com o Ministério da Saúde, os tipos B e C afetam mais de 325 milhões de pessoas no mundo, causando a morte de cerca de 1,4 milhão a cada ano, seja pela infecção aguda ou por câncer hepático e cirrose. Dentre as doenças infecciosas, é a segunda principal causa de morte – atrás apenas da tuberculose – e pode ser até nove vezes mais contagiosa do que o HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana). Como dito, a hepatite, quando não controlada, pode ser a precursora da fibrose avançada, da cirrose e do câncer de fígado. Por conta disso, os exames são essenciais, já que a partir dele é definido o tipo de vírus e o tratamento mais adequado. 

Tipos de hepatite

No Brasil, os tipos de hepatite mais comuns são: A, B e C. A hepatite D é encontrada, no país, na região amazônica e só acomete pessoas que já estão contaminadas pela hepatite B; a hepatite E não é endêmica do Brasil, atingindo com mais frequência os países da África e da Ásia.

A hepatite A é a que engloba o maior número de casos no mundo, principalmente em países subdesenvolvidos, já que está ligada às condições de higiene e de saneamento básico, entretanto, a maior parte dos casos se restringe à infecções agudas, em que a forma crônica não se desenvolve. A vacina contra esse tipo de hepatite faz parte do calendário infantil, sendo necessária uma dose do imunizante a partir dos 15 meses de vida da criança.

Wilson Liuti, infectologista da Secretaria de Saúde de Cambé, explica que o principal foco da campanha é conscientizar as pessoas sobre os tipos B e C de hepatite, que podem ser mais graves que as demais formas. A hepatite B é considerada uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST), já que a principal forma de contrair o vírus é por meio de relações sexuais desprotegidas. Segundo Liuti, quando contaminado com a hepatite B, o paciente pode apresentar apenas a forma aguda da doença e se curar naturalmente. “Mas em torno de 20% dos casos ela pode se tornar crônica, ou seja, que não tem cura”, explica. Segundo ele, os pacientes com a forma crônica da doença precisam tomar uma medicação antiviral por toda a vida. “A medicação não consegue erradicar o vírus, mas consegue atenuar a força dele”, destaca. 

De acordo com dados do Ministério da Saúde, de 20% a 30% dos adultos infectados cronicamente pelo vírus B desenvolvem cirrose e/ou câncer de fígado. Como forma de prevenir a doença, ao nascer, os bebês já recebem o imunizante contra esse tipo de vírus. De acordo com Liuti, em Cambé, a cobertura vacinal de crianças menores de um ano é de 90,33%. “Tanto a vacina para o tipo A quanto para o tipo são realizadas na infância, mas quem não tomou ou não se lembra de ter tomado, pode se vacinar mesmo na fase adulta”, ressalta. 

Além da vacina, como forma de proteção, é essencial que as pessoas usem preservativo em todas as relações sexuais e não compartilhem objetos cortantes ou de higiene pessoal. De acordo com Liuti, a hepatite B também pode passar da mãe para o filho por transmissão vertical, portanto, a testagem e, em caso positivo, a profilaxia auxiliam na proteção do bebê e da mãe. 

A hepatite do tipo C, ao contrário do tipo A e B, não possui vacina, mas há tratamento com chances de cura próximas a 100%. De acordo com o Ministério da Saúde, 60% a 85% das pessoas contaminadas com o vírus C desenvolvem quadros crônicos da doença e, dentre esses, 20% dos casos evoluem para cirrose. “O tratamento para esses casos envolve a ingestão de medicamentos antivirais que inibem o vírus. O tratamento dura em torno de três meses e depois disso o paciente já está curado”, explica. 

A hepatite C também pode ser transmitida durante a relação sexual, mas o método mais comum é pelo contato com sangue contaminado, através de seringas ou agulhas, por exemplo. A falta de esterilização de equipamentos também pode ser perigosa, por isso é essencial que seja feita a limpeza adequada de materiais hospitalares, estéticos ou de tatuagens, por exemplo. De acordo com o infectologista, a hepatite C só foi descoberta no início da década de 1990. “Por isso, as pessoas que receberam transfusões de sangue antes da década de 90 podem estar contaminadas com a hepatite C e não saberem disso. Então, é muito importante que todas as pessoas mais velhas façam o exame, já que isso permite que seja identificada a infecção e que o tratamento seja iniciado”, ressalta. Em 2020, foram confirmados 57 casos de hepatite B e C no município; em 2021, o número caiu para 28.

Segundo Liuti, durante a pandemia, a busca por testes rápidos caiu, o que fez com que o número de confirmações de infecções também caísse. “Essa baixa procura pode fazer com que quadros agudos da infecção se tornem crônicos, o que aumenta as chances de possíveis complicações, como o câncer de fígado e a cirrose”, pontua. Em Cambé, nos últimos dois anos, foram confirmados quatro óbitos pelo vírus B ou C, seja por conta da infecção ou por doenças decorrentes da hepatite.

Como é uma doença silenciosa, pessoas contaminados com o vírus da hepatite B e C só apresentam sintomas depois de muitos anos convivendo com a doença, geralmente porque o quadro já evoluiu. As principais manifestações físicas das hepatites são: icterícia (pele e olho amarelados), cansaço, tontura, dor abdominal e febre. Os sintomas, na maioria das vezes, são inespecíficos, por isso a testagem voluntária é um dos métodos mais adotados.

Em Cambé, qualquer pessoa pode fazer o teste rápido para as hepatites do tipo B e C, sífilis e HIV gratuitamente em todas as Unidades Básicas de Saúde da cidade e no Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA). Os testes são sigilosos e os resultados ficam prontos em 30 minutos. Qualquer pessoa pode realizar o teste rápido para todas essas infecções, basta realizar o agendamento por meio do telefone 3174-0216 ou ir presencialmente a uma das UBS ou ao CTA, que fica na Rua da Proclamação, 67 – Centro. Nos casos em que o teste é positivo, o paciente já é encaminhado para uma avaliação médica e o tratamento é iniciado.

“É essencial que toda a população faça o teste regularmente, uma vez a cada ano. O teste é rápido e gratuito e é fundamental para que a infecção seja descoberta logo no começo e o tratamento mais adequado seja iniciado”, finaliza Wilson Liuti. Quem não tomou ou não lembra de ter tomado a vacina para a hepatite A ou B pode procurar qualquer uma das Unidades Básicas de Saúde da cidade para receber a dose do imunizante.

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